Assistir a um filme na internet, baixar jogos ou ouvir músicas sem se preocupar com o consumo de dados está com os dias contados. Desde o início do ano, os principais provedores de internet fixa do país vêm alterando a forma como os contratos são apresentados aos clientes. Pelos novos contratos, quem atingir um certo volume no mês pode ter o fornecimento cortado ou a velocidade reduzida. 

A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) diz que a mudança não fere a legislação, mas alerta que as operadoras têm a obrigação de disponibilizar um local na página da empresa para informar ao consumidor quanto da franquia ele já consumiu. 
 
A companhia deve, ainda, avisar ao cliente que a franquia está próxima do fim, assim como acontece com os celulares. “A regra se aplica a qualquer serviço de telecomunicações que seja vendido com limitação por franquia. Voz ou dados são os exemplos mais comuns”, informou, por nota, a agência reguladora.
 
Minas  
Em Minas Gerais, a adesão ao sistema de limite de dados não foi confirmada pelas operadoras, mas não deixa de ser uma possibilidade. A Oi já possui a cláusula nos contratos, mas garante que não pratica a interrupção na navegação. A Vivo, que comprou a GVT, também mudou os documentos, mas diz que não fará alterações em Minas, segundo a assessoria de imprensa. 

No outros estados, onde a internet chega por meio de conexões ADSL, quem fechou negócio com a Telefônica Vivo (ex-Speedy) a partir de 5 de fevereiro já faz parte do grupo que precisará pagar para ter a internet restabelecida caso atinja o limite. Quem é cliente GVT e Vivo Fibra fora de Minas e assinou contrato a partir de 2 de abril também.
 
Em caráter promocional, a Vivo informou que manterá o fornecimento sem cobrança adicional até 31 de dezembro. A Net não se pronunciou. Vale ressaltar que Vivo (ex-GVT), Net e Oi são as maiores provedoras do país.
 
Cobrar por volume de internet é uma tendência internacional, conforme afirma o presidente da Teleco Consultoria, Eduardo Tude. “As pessoas usam cada vez mais dados, seja para assistir a filmes, jogar, ouvir música. Por isso, a cobrança começa a ser feita por volume, além de cobrar por velocidade”, explica.


 Heavy user  
A jornalista Rafaela de Angeli é exemplo de quem faz tudo pela internet. Por dia, ela admite passar pelo menos quatro horas logada em casa. “Assisto pelo menos um filme todos os dias, acompanho séries na internet. Sem contar que ouço música, compro coisas. Limitar é um retrocesso”, afirma. O plano da casa dela tem capacidade para baixar 10 megabytes por segundo. 

De acordo com o Netflix, site de streaming (transmissão de dados sem download) que conquistou os brasileiros, assistir a vídeos no site consome até 2,3 gigabytes (GB) por hora. Em um plano de 130 GB, um dos residenciais mais potentes do mercado, ela poderia se conectar por quatro horas diariamente durante 14 dias ao Netflix. Vale lembrar que o streaming é apenas uma das formas de interação dos consumidores com a internet. Há, ainda, os downloads de filmes e jogos, que consomem mais banda.

Outro comportamento que aumenta o consumo é o compartilhamento da internet por mais pessoas da mesma família. Ou seja, se outra pessoa na casa da jornalista assistisse a filmes no Netflix, ela teria que dividir o consumo por dois.


“Da mesma forma que pode ser uma boa forma para criar novos planos, inclusive mais baratos voltados àquele consumidor que utiliza pouco a internet, limitar o uso de dados pode atrapalhar a venda das operadoras. Com a portabilidade, os consumidores certamente vão migrar para as empresas que oferecerem melhores condições”, pondera o ex-ministro das Comunicações e sócio da Orion Consultoria, Juarez Quadros.